sexta-feira, abril 13, 2007

O TREM - mensagem de aniversário

*7/4/2007*

Certa vez ouvi dizer que os anos passam pela gente como um verdadeiro trem de carga.
Hoje, ao comemorar meu aniversário antes da data em que ele realmente deve ocorrer, vejo-me forçada a discordar de tal afirmação. Não seria a vida por si só um trem de carga?
Passamos de estação em estação, conhecemos novos rostos, experimentamos novas sensações, quebramos a cara em um local diferente, ganhamos uns arranhões, uns carinhos, ouvimos estas ou aquelas palavras que sentimos que nos marcarão para sempre, adoramos a banda e/ou a música do momento, mudamos o visual,e às vezes até chegamos a levantar bandeiras.
Mas aí chega a hora de entrar no trem de novo. E agora? A bandeira não cabe, as malas estão muito cheias, dá vontade de não partir. O nó na garganta mistura-se à indignação quando o periquito na gaiola do fulano ao seu lado começa a testar os seus nervos. Entramos mesmo assim, meio desengonçados, sem saber ao certo qual será a próxima estação.
Durante a viagem, muitas vezes vamos nos desvencilhando do “peso” adquirido na estação anterior, e o mais impressionante é que vez por outra fazemos isso sem perceber. Afinal, cá entre nós, a viagem é longa, o conforto fala mais alto.
Então chega a hora de parar em outra estação, e as histórias muitas vezes se repetem. Mais revolta, vontade de mudar o mundo (o Greenpeace tem mais uma chance de ganhar muitos membros), mais bandeiras, mais calos, muitos outros tantos tapas na cara (alguns bem merecidos), e por aí vai. E vem novamente a hora de entrar no trem. É um tal de: pega, enche, fecha a mala, abraça, chora, sorri, abaixa, pensa, puxa, corre, grita, silencia...nem todo mundo agüenta. Muitos ficam pelo caminho pensando que podem permanecer para sempre naquela estação. Ingênuos, não percebem que estão perdendo tempo e que o trem chega sempre e, mais cedo ou mais tarde embarcamos nele. Só que ele é danado, vira trem fantasma, nos assusta e nos pega sem que a gente se dê conta às vezes. Muitos de nós só percebemos a mudança de estação quando já é hora de partir novamente.
Durante a viagem, por inúmeras vezes nos perguntamos o destino do trem. Ninguém se lembrou de perguntar quando entrou, e espere, quando foi mesmo que entramos nele pela primeira vez? Silêncio. Alguns passageiros cochicham e contam histórias sobre o último que tentou descobrir o destino da locomotiva. Olhos espantados vislumbram um certo terror misturado com compaixão: “Pobrezinho, tão jovem”. Muitos outros passageiros decidem destruir o meio de transporte em sinal de protesto. Com suas faixas de “morte ao trem” eles acabam com tudo o que vêem pela frente. São tantos traumas e frustrações, cada um escolhe sua forma de lidar com elas. É uma pena não perceberem que estão apagando a chama de recuperação que queima dentro deles mesmos.
E no meio disso tudo, estou eu, sentada no banco da janela tentando dar uma de psicóloga com a moça ao lado que não pára de chorar. Terminou com o namorado e agora se arrepende. Da última vez, era um velhinho que perdeu o filho antes de sua viagem terminar. As histórias se repetem tanto, e soam tão familiares, é de arrepiar.
Tenho a sensação de que vou descer do trem logo, às vezes vem assim mesmo, como um friozinho na barriga e uma euforia na espinha. Consigo ver alguns amigos (estão com cara de importantes, mas não perderam o sorriso juvenil), parentes (Olha minha vó lá de novo!, e o pai com cara de bravo, nossa como minha irmã cresceu, e minha mãe fica cada vez mais bonita...danadinha vaidosa!, a primaiada também apareceu com os tios sarristas prontos para o próximo churrasco) e até aquele namorado (caramba, não é que ele tem cumprido a promessa de me acompanhar? E ainda traz as pentelhas das irmãs, haha!) me esperando na estação. Como é bom quando eles reaparecem! Alguns deles a gente tenta rever, mas dá tanto trabalho que desistimos...mas esses aí, ah, malandros! Eles não me deixam em paz! É por isso que vou tratar de viver bem esse tequinho de vida que tenho com eles, sem pensar no horário do próximo trem. É difícil, admito, mas aos trancos e barrancos vamos entendendo.
Para falar a verdade, creio que depois de um tempo enxergando a vida como esse trem de carga, começamos a entender que o destino somos nós que traçamos, e que as estações aparecem de acordo com as escolhas que fazemos. Você acredita nisso? É, estou ficando meio estranha com o passar dos anos, deve ser influência desses alunos que me atormentam todos os dias. Ainda assim, sinto que tenho muito a plantar pelas estações afora e, se vocês aí quiserem me ajudar, uma enxada a mais é sempre bem vinda! Será um prazer revê-los novamente na próxima estação!
Obrigada amigos, e lembrem-se SEMPRE AVANTE!

5 comentários:

Unknown disse...

Você bem sabe o quanto eu curto andar de trem...Ficar imaginando o que as pessoas estão pensando ou ficar brincando de desenhar com os olhos. Pirado é pouco. E sim, eu bem sei que você tem lá suas pirações também. E não são poucas. Ainda bem! gosto de gente assim. Tem sido um prazer imenso te conhecer..! hihi

Anônimo disse...

ufa!

domingoatardedentrodotremolhandoocéueaspaisagenseessesjapastãoparecidoslembrotantodowillhuntingatravessandoacidadeparalimparochãodeharvardesparramadonobancodecorvinhoetambémalgumascenasdoslivrosdaagathachristiequesepassamemtrensemnoitesmal-dormidas.

uau. a verdade é que lendo, me passou um clip na cabeça, de você escutando a mulher ao lado, tentando acalmá-la. mas sempre olhando um pouco o horizonte, procurando por alguém, esperando chegar sei lá aonde. e quando o trem para, você pede licença à ela e desce toda apertada, aí avista o namorado ( que tem umas pentelhas junto mas no caso, são sua cria!) e vocês se abraçam e o trem parte. vocês também, caminhando...

juh, não sabia que foi seu aniversário antes de ler esse post. então, um abraço pra você hoje, que um dia eu vou te dar.

abrace forte!!

Anônimo disse...

será que ainda vai me ler se eu escrever, assim, por aqui..depois de vc ter escrito ja textos novos?!?!
sua escrita é irresistível!
fui lendo e lendo cada vez mais rápido, no movimento do trem..! mas nossa, que me deu uma vontade de ir andando! mas não que eu não estivesse aproveitando o passeio que vc me permitiu, pois adoro andar em trens, veja bem! apenas que descobri nesta leitura, que minha viajem é feita a pé..! que num passo meio lento, a olhar pra tudo, subindo e descendo ladeiras! por isso que tinha que escrever aqui, mesmo ja sendo um pouco tarde, pra dizer que vc me levou na sua escrita e me fez lembrar quem sou eu e como me faço!

Ju Bella disse...

Um bom blogueiro sempre relê seus posts e acaba se deparando com mensageiros atrasados! haha

Seja bem-vindo! De anônimo tu tens pouco!

*Abraço*

Unknown disse...

Esses seus textos dão margens giganmtes pras pessoas viajarem...ou melhor dizendo: seguirem viagem..!

Amocê..!